Saturday 18 August 2012

Entrevista para o Blog ArtArte - Marcio de Oliveira Fonseca




Alexandre Hypólito


Fale algo sobre sua vida pessoal. 

Sou carioca, mas já morei em Belém do Pará, Porto Alegre e São Paulo. Atualmente, vivo e trabalho no Rio de Janeiro. Venho de uma família sem nenhuma ligação com as artes. Não tive influências próximas, mas desde cedo já percebia que deveria me envolver, de alguma maneira, com o universo criativo. Como em algum momento na vida da maioria dos artistas, busquei durante muitos anos em outras áreas, alternativas viáveis às artes. Todos já tivemos a percepção de sua inviabilidade, mas a arte não é um ofício. É uma forma de perceber e interpretar o mundo, impossível de ser descartada. E a arte contemporânea possui uma característica que sempre me atraiu: a possibilidade de atingir o ápice da liberdade de pensamento.




Como foi sua formação artística?
Sou autodidata. Minha formação artística é basicamente empírica e bibliográfica.


Que artistas influenciam seu pensamento?

Nenhum. Gosto muito dos trabalhos de vários artistas como Beuys, Philip-Lorca diCorcia, Matta-Clark, Gregory Crewdson, Hopper, Koons, Jeff Wall, Wojnarowicz, Larry Clark, Sandy Skoglund, Joel-Peter Witkin, Tillmans, Ron Mueck, Maurizio Cattelan e outros. Mas não baseio meu pensamento nas pesquisas de outros artistas. Busco minhas referências na história da humanidade e seus reflexos na modernidade. A vida real é infinitamente mais complexa e perversa do que qualquer mente criativa consegue transpor para as artes.

Como você descreve sua obra?

Em constante transformação e evolução.Tenho uma gama de interesses muito grande, o que dificulta nortear minha obra a partir de um único pensamento. Por isso produzo em séries, sendo algumas fechadas e outras há anos em produção. Eventualmente, volto à antigas séries ou trabalho simultaneamente em duas ou três. Raramente produzo trabalhos isolados. É a forma que encontro para inserir questões no meu trabalho que em outras épocas não tinham relevância.

Vivemos em um mundo que sofre uma constante transformação cultural, muito rápida e mais intensa, inclusive, à gerada pelo Iluminismo. Me refiro à facilidade de geração e divulgação de informações, idéias e imagens pelo cidadão comum. O que vemos, atualmente, é a transferência de poder das mídias tradicionais e Estados instituídos àqueles que realmente viveram a história. Vemos os fatos de forma crua e real, sem a estética de fotógrafos e cinegrafistas profissionais e, por vezes, subvertendo as versões oficiais, impedindo que estas se tornem, de fato, História. Cito estas questões para ilustrar os motivos pelos quais transito por várias possibilidades. Não é possível me ater a um único pensamento dentro de um período da civilização com tamanho poder de transformação.


Você é fotógrafo profissional e artista como você faz essa diferença? Como elas se completam?
Não existe conflito, pois atuo como fotógrafo profissional em áreas correlatas às artes visuais como still de cinema, teatro e reprodução de obras de arte. Há, na verdade, uma troca de experiências.

O número crescente de artistas após o advento da fotografia digital e o Photoshop é positivo ou negativo?
Não é positivo ou negativo. É simplesmente inexorável. Faz parte da história da arte anexar novas ou antigas mídias às produções artísticas. Foi assim com a fotografia, com o cinema e o vídeo, com a robótica e a mecatrônica. O teatro, a cenografia e a arquitetura estão presentes nas artes visuais sob a forma de performances e instalações. Não é certo criar juízo de valor da mídia utilizada, mas do produto gerado por ela. Pouco importa se o trabalho é pintura, fotografia digital ou analógica, se foi usado Photoshop ou não. Nunca entendi artistas que fazem questão de deixar claro que usaram filme e não câmera digital em certos trabalhos. E daí? O próprio universo das artes se encarrega de separar o que possui algum valor do que não passa de uma bobagem. Sempre foi assim e continuará sendo.

O que é necessário para um jovem artista ser representado por uma galeria?
Em primeiro lugar, não transformar a galeria em um Santo Graal. Uma representação é a consequência de vários fatores. Um deles é ser absolutamente fiel às suas questões e princípios nas artes, não alterar seu pensamento ao sabor das necessidades do mercado. Outro, é o nível de comprometimento com o fazer artístico, pois ninguém se dispõe a investir em artistas que duvidem de suas aptidões ou não demonstram desejo o suficiente para dar continuidade às suas pesquisas. Não deve se posicionar, por exemplo, como um designer que faz arte, mas como um artista que também faz design. E o principal é transmitir ao mundo das artes a percepção do seu envolvimento, do seu compromisso. Como conseguir este posicionamento é questão de foro íntimo.

Além dos estudos sobre arte que outros estímulos influenciam em seu trabalho?
Filmes e documentários, livros de ficção e não-ficção, jornais, revistas e Internet.

O que você pensa sobre os Salões de Arte?

Quanto mais houver, melhor. São espaços de divulgação muito úteis. Mas não devem ser considerados parâmetros de absolutamente nada. Artistas que não conseguem entrar em salões não devem se considerar ruins ou excluídos e os que entram, não devem se considerar excepcionais. A arte, atualmente, é relativa em qualquer um dos seus espaços políticos.

Os Salões deveriam distribuir prêmios em dinheiro a todos os seus participantes e de forma igualitária.


Qual sua opinião sobre as Bienais e Feiras de Arte?

São duas propostas diferentes. As feiras são ricas em possibilidades e traduzem com fidelidade a realidade da arte contemporânea, que é extremamente plural e sem diretrizes definidas. São galerias que atuam em diferentes espaços políticos e geográficos, com diferentes propostas. É interessante perceber como a arte acontece simultaneamente em diversas regiões.

Bienais traduzem as referências de um curador apenas. E, mesmo quando administradas por um grupo de curadores, sempre haverá a primazia de um deles. Mas, graças aos seus formatos expositivos, possibilitam uma grande liberdade de inserção de propostas que dificilmente veríamos em feiras. Além do fato de que as galerias buscam compor seus artistas a partir destas mesmas propostas curatoriais. É óbvio que as feiras possuem viés mercantilista, como muitos criticam. Mas arte é mercado. Ninguém faz arte apenas por diletantismo. Mesmo o artista que propõe projetos efêmeros ou de difícil comercialização, está buscando notoriedade. E notoriedade se transforma em bem de capital. Portanto, o ciclo das artes sempre se fecha no mercado.


Quais são seus planos para o futuro?

Viajar mais para o exterior. Neste ano, passei cinco meses em Paris participando de um intercâmbio artístico na École des Beaux-Arts. Foi a experiência mais enriquecedora e gratificante que já tive. O desprendimento geográfico, para mim, é muito importante, pois acrescenta muito à construção do meu trabalho.

Também pretendo produzir, dentro do possível, todos os meus projetos artísticos que estão parados.


O que você faz nas horas vagas?
Gosto muito de conversar e trocar idéias com os amigos, de assistir filmes de vídeos e documentários e leio muito. Leio praticamente tudo que me cai nas mãos, inclusive panfletos de supermercados. 
Também sou um flâneur por excelência. Caminhar pelas cidades, parar em alguns locais e observar o comportamento das pessoas é um excelente exercício intelectual.

Faça se desejar algum comentário.

Agradeço muito a você, Marcio, a oportunidade. E espero que continue, com muito sucesso, este ótimo trabalho de divulgação das artes.

Um grande abraço.

Série "Chambre de Bonne". Fotografia.


Série "Chambre de Bonne". Fotografia.



Série "War Games": "La Baïonnette et la Raison des Choses". Objeto.


Série "War Games": "La Baïonnette et l'Enfance Terrible". Objeto. 



Série "War Games". Técnica mista sobre página de livro.
















Série "War Games": "Enjoy the War". Fotografia.















Série "New World, New Life". Instalação site-specific.











Série "New World, New Life". Instalação site-specific.



Série "New World, New Life". Objeto.



Série "Reo ab Incunabulis": "Sweet Dreams". Objeto.



Série "Reo ab Incunabulis". Objeto.


















Série "Reo ab Incunabulis": "Teddy, the Pimp". Instalação.














Série "the cut". Fotografia.



















Série "the cut". Fotografia.


Alexandre Hypólito


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